11 de mar. de 2011
Kick Ass
“Kick ass” (baseado na HQ homônima de Mark Millar) foi tomado por muitos como um dos grandes filmes 2010, depois de assisti-lo não acho que seja assim. Basicamente o que posso dizer é que parece haver dois filmes que aos poucos vão se fundindo num filme regular.
De um lado, existe a desconstrução do herói, a visão de que tornar-se um herói é sobretudo um ato desesperado, um ato de quem não tem nada a perder, um ato essencialmente auto-destrutivo. Esta é a história de Dave (Aaron Johson), um garoto invisível à todos os olhos, que tenta por em prática sua fantasia de tornar-se um super-herói. Neste intento ele sofre muito - melhor dizendo, ele apanha muito, o que é retratado em cenas de violência mais ou menos explícita - até que encontra algo em sua vida pelo que realmente vale a pena estar vivo, e neste momento a disposição ao auto sacrifício desaparece, dando lugar ao comum egoísmo humano. Neste segmento o filme tem uma paleta de cores mais contida e mais clara, bem como a violência é mais realista, o que resulta na impressão de que se aquilo acontecesse aconteceria exatamente daquela forma.
De outro lado estão Hit Girl (a bonitinha Chloe Moretz) e Big Daddy (Nicolas Cage), estes sim a materialização do arquétipo do super-herói. A presença destes dois exaspera as cores das imagens, e tornam a violência não apenas mais explícita como menos real. Os vilões são únicos, mas alternam-se entre estes dois momentos, hora comportam-se como super-vilões e hora como o criminosos comuns.
À partir de um determinado momento estas duas linhas se unem e é difícil distinguir uma história da outra. Neste momento é possível perceber que Dave, o protagonista, compreende que ser um herói era apenas um reflexo de sua insatisfação com a vida e não uma vocação, um destino ou um desejo mais profundo.
“Kick ass” é um filme do nosso tempo, a internet e as redes sociais são uma presença constante no filme, mostrando que as relações humanas se tornam cada vez mais impessoais e regidas por meros interesses superficiais (e se tornar um super herói é uma forma de despertar este interesse) . Da mesma forma, este desespero juvenil que conduz Dave em sua jornada é algo cada vez mais presente e real. O filme passa longe de ser genial, e suas menções à Kill Bill - seja pela trilha, seja pelo figurino de Hit girl em certos momentos, seja pela violência exagerada, seja por um segmento em animação – deixam claro que este é um filme que nasceu com a pretensão de ser cool, embora não o seja no final das contas. Se tem uma coisa que o filme deixa claro é que a violência é muito eloqüente, é um recurso que, se bem utilizado, pode tornar um filme medíocre num filme divertido. Enfim, se você tiver duas horas vagas, vale a pena ver, mas não vale um replay...
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