8 de jun. de 2011

Máquina de Pinball

Bolas. “Camila, você emagreceu!” Abençoado seja o Dr. Boleta, que me dá folhas e mais folhas de receita azul. Quem tem azul tem tudo. Mas não quero tudo, só anfetaminas. Cloridrato de Anfepramona, vulgo Inibex ou Hipofagin, uma dádiva na vida de pessoas que não gostam de dormir ou neuróticas depressivas sem dinheiro para comer. Todas as alternativas estão corretas.
Há um mês eu tinha TV a cabo, geladeira, forno de microondas, contour pillow, liquidificador, videocassete, lava-louças, cablemodem, sacada e namorado. Agora, moro em um quarto onde não cabe um homem adulto deitado no chão. Acredite, eu testei. Durmo em um colchãozinho na sala, junto com Julian, o gato que achei no meu terceiro dia de cidade. Amo gatos. Os outros dois ficaram na minha ex-casa. Três, na verdade, mas na partilha de bens o namorado ficou com um deles e com os bonequinhos dos Beatles, único motivo de briga até agora, fora as traições que nos levaram ao trágico fim. Minhas, que fique claro. Porque preciso me apaixonar toda hora, ou não consigo produzir porra nenhuma. Por isso meu ex-namorado, de quem eu realmente gostava, não quis mais saber de mim: não sou capaz de ficar com uma pessoa só. Consigo amar uma só pessoa e essa pessoa era ele, mas preciso de novidade constante. Depois de dois anos ele não quis mais saber e me expulsou de casa. O que fazer? Tentar explicar? Não adianta, ninguém entenderia, nem eu. Agora o amor da minha vida esta semana só se refere a mim como “a farsante” e cobra a fortuna que devo a ele. Suspiro. Love is suicide.
Tenho duas opções: ou sofro como um cão abandonado, choro, choro, choro e espero passar, ou saio por aí me divertindo dentro do possível e comendo pessoas. Nada de canibalismo aqui: estou falando de sexo. Sentir algo que não seja dor é bom nessas horas.
(...)
Posso estar fodida e sem dinheiro, mas rock é de graça. Ultimamente só escuto Strokes, banda que alguns incrédulos pouco visionários duvidavam que fosse estourar. Pra mim era óbvio, virei fã desde que ouvi o primeiro single, The Modern Age, simplesmente genial, meses antes que qualquer um por aqui tivesse idéia de quem seriam os rapazes.
(...)
Eu apaixonada só faço merda.
(...)
Não posso ir a uma festa em circunstâncias normais que já faço merda. Se estiver apaixonada então, fora de questão. Mas fui. Fui apaixonada a uma festa num sítio. Um sítio, percebe? Não tinha como dar certo. Cheguei e me deram essa bebida demoníaca chamada Flor da Montanha, que tinha gosto de metanol com borracha queimada e asfalto e óleo. O aviso NÃO TOMA TUDO veio meio tarde, gritado em uníssono pelos nativos depois que virei um copo inteiro. Bastou para que eu passasse mal, rolasse na lama vermelha, fizesse strip, chorasse, me declarasse, tentasse me atirar no poço artesiano, o diabo. Acabei a noite em uma praça com jogadores góticos de RPG que tinham a mais absoluta das certezas de que eram vampiros e se penduravam de cabeça pra baixo em árvores tentando ficar confortáveis e acabando roxos. Loucuuuuuuuuuuuura, amizade. E eu deitada no banco da praça chorando e escondendo a cara no colo do meu melhor amigo porque sabia que tinha estragado tudo e que não tinha volta e que eu era uma idiota. Quando acordei, não sabia onde estava. Cadê o Júlio? Foi embora, Camila. O Júlio foi embora. Para sempre. Quando digo que só faço merda quando me apaixono, realmente falo sério. E a merda é sempre proporcional ao tanto que gosto do sujeito.
(...)
Graças a deus que italianos se reproduzem como coelhos, assim a chance de ter mais um Fante talentoso era maior. E ele veio e se chama Dan Fante e se disfarça de Bruno Dante e está para o Fante Pai como o Clube da Luta está para Laranja Mecânica. A semente vive. O filho é tão bom quanto o pai. Pau no cu dos escritores pasteurizados e sem sentimento e com fórmulas que fedem a desinfetante. Quero vida e a vida não tem fórmula. Quero dor e entranhas e sentimento. Quero verdade.

Uns trechinhos do Livro Máquina de Pinball, de Clarah Avebuck.
Gosto muito do jeito que ela escreve. Ela conta todas as loucuras dela, o que é muita coragem, pois as pessoas não querem ver e aguentar o lado louco da gente. Como se tudo mundo não tivesse suas loucuras. Cara, a gente tem que esconder as nossas pirações, senão as pessoas morrem de medo. Tem que esconder tudo direitinho.
FODA-SE!
Quem quiser o livro me avise que eu mando. A própria autora disponibilizou em pdf. É só pedir.

2 comentários:

Yom disse...

Ai, eu adoro a Clarah, acho ela super engraçada e talz, mas ela às vezes prega uma histeria que está longe de ser a verdade das pessoas...ela age como se fazer merda e depois sair lambendo as próprias feridas e cultivando os próprios defeitos fosse uma virtude e medida da profundidade de um ser humano. Eu discordo, absolutamente. Sempre levei uma vida simples e linear, nunca fiz nada de tão ruim a ponto de me arrepender e chorar depois, e vivo muito feliz e realizado...e assim acontece com 99% das pessoas que conheço, e nenhuma delas deixa de ser interessante, profunda e inteligente...enfim, é isso. Mas acho a Clarah engraçada!

Jujuba disse...

Ela é doida, tu não sabes?? Eu sei o que tu estás dizendo, mas alguém nesse mundo tem que pirar, né. Que seja ela e não eu. Eu admiro a pessoa assumir suas loucuras assim pro mundo, tem que ter coragem. E eu gosto desse tipo de literatura.

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