A arte, na minha irrelevante opinião, é tudo aquilo que te transforma, que te faz mudar, que te faz querer mudar.
A arte te faz descobrir algo sobre o mundo e muito sobre si mesmo. Te faz pensar e repensar em algo que tu nunca tinhas pensado antes.
A arte te faz perder o fôlego, te faz ficar sem conseguir respirar, como se, ao respirar, tudo fosse desaparecer.
A arte te faz sentir o coração e as tripas gelarem e os miolos e as pernas enfraquecerem.
Nunca estudei arte e não sei o conceito acadêmico dela. Pouco me importa. O que me interessa é a experiência que ela me proporciona.
Esses dias tive duas importantes experiências com a arte. As duas com cinema, mas também relacionadas com literatura e dança.
A primeira foi com o filme O Livro de Cabeceira, que eu vou comentar daqui a pouco. A segunda, há poucas horas (e eu ainda estou empolgada), foi com o filme Cisne Negro.
Como eu posso passar para os leitores essa experiência sem estragar a novidade do filme? Tarefa difícil, não? Mas vamos lá.
O filme retrata a bailarina Nina, encarnada em Natalie Portman (uma menina esquálida, um anjo). Ela vive para o balé, busca a perfeição em cada movimento. Tem uma mãezinha não muito normal, que também foi bailarina, que a trata como criança. Nina vive num mundo em que o balé é tudo, numa atmosfera de competição e últimas chances.
Quando a bailarina principal (uma participação tocante de Winona Rider) da companhia fica ultrapassada e se aposenta compulsoriamente e o diretor (Vincente Cassel, irresistível como sempre) resolve fazer uma nova versão de O Lago dos Cisnes, Nina vê a sua oportunidade de brilhar.
Nesse espetáculo, a bailarina principal terá que interpretar o Cisne Branco, que é a pureza, o amor, a delicadeza, e a sua irmã gêmea, o Cisne Negro, que é a maldade, a luxúria, o poder, a sedução.
Nina é perfeita para interpretar o Cisne Branco, mas há dúvidas se ela pode viver a sensualidade do Cisne Negro. Mas ela consegue o papel.
Nesse processo de criação dos Cisnes, principalmente o Negro, Nina começa a confundir a realidade, principalmente em relação a uma nova bailarina da companhia.
Tenho que parar de contar o filme aqui, senão estraga.
Já tive o privilégio de ver uma apresentação de balé clássico, como em Lago dos Cisnes. É realmente umas das coisas mais bonitas de se ver.
Essa experiência em Lago dos Cisnes é aterradora. Nina, ao encarnar os cisnes Branco e Negro, tem que encontrar o bem e o mal que existem nela.
O bem é mais fácil. Todos nós sempre vemos muito rapidamente todo o bem e tudo de bom que há em nós. Mas encarar o mal, assumir esse mal que existe em cada um é mais difícil.
Então Nina busca o Cisne Negro de uma forma que vai levá-la ao extremo do sacrifício pela arte.
Nina é a própria arte em seus movimentos. Todos os seus músculos, seus nervos e tendões são a arte do balé. Sua boca, seus olhos, seu pescoço, seus pés, sua pele são expressões de arte.
Assim, sua mente também é dominada pela dicotomia dos Cisnes. Ela consegue então formas diferentes de descobrir e despertar o mal em si e dar vida ao Cisne Negro.
Gente, e esse Cisne Negro, quando finalmente aparece no filme, é simplesmente arrebatador, estonteante.
Se existissem deusas na Terra ou em outro lugar, certamente teriam a forma de Nina e seu Cisne Negro. Lindíssimo.
Quando o Cisne Negro finalmente triunfa, e Nina se entrega ao prazer de ser esse cisne com seus olhos de sangue, e dança apaixonadamente, ferozmente, estamos diante de uma cena muito bela.
É o triunfo da arte, da beleza. E o meu coração e as minhas tripas gelam.
2 comentários:
Amooooooooooooooooooo o filme!!!
ai ai ai... não vou ler o que voce escreveu antes de ver o filme... preciso ver amanha, sem falta!
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