22 de set. de 2010

A Mulher de Trinta Anos - Honoré de Balzac

Acabei de ler esse livro que é muito bom. Vou transcrever um trecho que gostei muito.

Uma mulher de trinta anos tem atrativos arresistíveis para um rapaz; e nada mais natural, mais fortemente urdido e melhor prestabelecido que os laços profundos, de que a sociedade nos oferece tantos exemplos, entre uma mulher como a marquesa e um rapaz como Vandenesse. Com efeito, uma jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência, e o sexo é bastante cúmplice de seu amor, para que um rapaz possa sentir-se lisonjeado; ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios que tem a fazer. Lá onde uma é arrastada pela curiosodade, por seduções estranhas à do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, outra escolhe. Essa escolha já não é por si só uma grande lisonja? Armada de um saber quase sempre pago por um preço muito alto em dissabores, dando-se, a mulher experiente parece dar mais do que ela mesma, ao passo que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar; ela aceita o amor e o estuda. Uma nos instrui, nos aconselha numa idade em que de bom grado nos deixamos guiar, em que a obediência é um prazer: a outra quer tudo apreender e se mostra ingênua naquilo em que a outra é toda ternura. Aquela nos propicia um único triunfo, esta nos obriga a combates constantes. A primeira só tem lágrimas e prazeres, a segunda tem voluptuosidade e remorsos. Para que uma jovem seja amante, precisa ser muito corrompida, e então é abandonada com horror, enquanto uma mulher possui mil modos de conservar a um tempo seu poder e sua dignidade. Uma, demasiado submissa, oferecemos à triste segurança da quietude; a outra perde demasiado por não exigir do amor suas inumeráveis metamorfoses. Uma desonra-se por si mesma, a outra mata por nossa causa uma família inteira. A jovem só possui uma coqueteria, e acredita ter dito tudo despindo o vestido; mas a mulher tem-nas em grande número e se esconde sob mil véus; finalmente, afaga todas as vaidades, e a noviça só lisonjeia uma. Existem além disso indecisões, terrores, receios, pertubações e tempestades na mulher de trinta anos, que jamais se encontram no amor duma jovem. Chegando a essa idade, a mulher pede a um jovem que lhe restitua a estima que ela lhe sacrificou; vive apenas para ele, preocupa-se com seu futuro, deseja-lhe uma vida bela, procura torná-la gloriosa; obedece, suplica e ordena, curva-se e eleva-se e sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até embelezar-se com a desgraça. Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer.
(...)
Possui então o tato necessário para tocar no homem todas as cordas sensíveis, e para estudar os sons que delas tira. O seu silêncio é tão perigoso quanto suas palavras. Nunca se pode advinhar se, nessa idade, ela é sincera ou falsa, se zomba ou se está de boa-fé nas suas confissões. Depois de nos ter dado o direito de lutar com ela, de repente, com uma palavra, com um olhar, com um desses gestos que tão bem conhecem, encerram o combate, nos abandobnam e ficam senhoras do nosso segredo, com liberdade para nos torturarem com um gracejo, para se ocuparem conosco, protegidas ao mesmo tempo por sua fraqueza e por nossa força.

Agora eu sei o que significa o termo balzaquiana.
Muito bom esse livro, de fácil leitura. Recomendo.

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